LIBERDADE DE CÁTEDRA E UNIVERSIDADES CONFESSIONAIS

Postado por em 03/jun/2019 - Sem Comentários

DINIZ, Debora; BUGLIONE, Samantha; RIOS, Roger Raupp. (Orgs.) Entre a Dúvida e o Dogma – Liberdade de Cátedra e Universidades Confessionais no Brasil. Brasília: Letras Livres; Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.

Organizado em seis capítulos, escritos por diferentes autores, este livro de 215 páginas e título bem sugestivo põe em questão o exercício de uma liberdade fundamental na universidade, seja ela confessional ou laica: a liberdade de produção e difusão do conhecimento.

Tomando por objeto as universidades confessionais, os textos analisam em que medida existe ou não liberdade de cátedra nessas instituições, projetando a discussão maior sobre o respeito à pluralidade de idéias, princípio basilar de toda sociedade que se pretende democrática. Um excelente aperitivo sobre isso é já apresentado na Introdução, na qual os organizadores se reportam à troca de correspondências públicas, ocorrida no ano de 2000, entre o cardeal Carlo Maria Martini e o escritor Umberto Eco. O leitor pode imaginar quão interessante se torna um debate quando os interlocutores, sem camuflar divergências, se tratam de maneira respeitosa, defendendo seus pontos de vista por meio de argumentos, sem apelar para expedientes de desqualificação do outro e de suas convicções. Diniz, Buglione e Rios salientam, com muita propriedade, que o espírito da discussão travada entre Martini e Eco deveria se fazer presente nas universidades confessionais, uma vez que o exercício do livre pensamento é condição sine qua non para a produção do conhecimento científico.

O fio condutor da análise proposta aos autores convidados a escrever sobre a liberdade de cátedra envolve temas polêmicos, como por exemplo, os direitos sexuais e reprodutivos. O primeiro capítulo, escrito pela filósofa estadudinense Martha Nussbaum, focaliza como tal problemática é tratada em duas universidades confessionais norte-americanas, uma de orientação católica e outra de orientação mórmon. Esse estudo mostra que uma dessas instituições tem conseguido compatibilizar os dogmas de fé com a prática da liberdade acadêmica em questões concernentes ao respeito à diversidade sexual. Na outra, entretanto, a liberdade de cátedra foi considerada tão somente uma “figura de retórica”. A discussão desenvolvida abre então espaço para pensar a realidade das universidades confessionais brasileiras, o que é tratado nos demais capítulos.

Na medida em que se propõe a ser uma espécie de fiel da balança entre as dúvidas que instigam o pensamento e os dogmas religiosos, o livro não só permite ao leitor ter contato com enfoques distintos (éticos, filosóficos e jurídicos), como também o coloca frente a opiniões diferentes, cultivando, portanto, o princípio do respeito à pluralidade de idéias. Para conferir à obra fechamento condizente com a proposta abraçada, os organizadores apresentam, no último capítulo, um levantamento da bibliografia

brasileira sobre as relações entre confessionalidade e liberdade de cátedra, feito por Kátia Soares Braga e que tem por marco temporal a década de 1990, a qual registrou um volume maior de publicações.

Em síntese, por reunir um rico material sobre temática da atualidade, o livro traz reflexões importantes para todos que têm interesse pelo tema das liberdades laicas, sobretudo no que se refere à produção e difusão do saber nas universidades confessionais e à questão da autonomia universitária.

[Dica de Renato José de Oliveira]

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Agenda de atividades

Copyright 2024 - STI - Todos os direitos reservados

Skip to content