Postado por jamsepulveda2 em 18/maio/2020 - Sem Comentários
Por Pâmella Passos*
Publicado às 03h00 de 18/05/2020 – Atualizado às 10h15 de 18/05/2020
Nas
últimas semanas em casa, cumprindo a quarentena, tenho acompanhado o drama de
vários colegas, assim como eu professores, que nesse último período passaram a
ter que produzir conteúdos para plataformas digitais, chamados de Educação à
Distância (EAD). Erroneamente, pois EAD é uma modalidade de Ensino com inúmeras
preocupações e etapas que não podem ser atropeladas como tem acontecido.
Pois bem, esses professores tiveram que virar youtubers e desenvolver
habilidades tecnológicas compatíveis com as novas demandas de seus
empregadores. Soma-se a esse fator a preocupação com o que será feito de suas
imagens. É preciso lembrar que em tempos de perseguição aos professores feita
por setores conservadores, como o movimento “Escola Sem Partido”, esta
preocupação não é à toa.
Pressionados e expostos, professoras e professores seguem fazendo a tarefa a
eles imposta. Mesmo sabendo que no meio de uma pandemia, a preocupação não
deveria ser conteúdo. Mas eles também sabem há tempo que a sociedade anda
doente e que recai na escola o peso de um mundo onde as famílias por muitas
questões não dão conta de estarem com seus filhos e, durante esta quarentena,
não seria diferente.
Mas quero aqui dialogar com esses colegas que estão sendo pressionados a
“produzir aulas virtuais”. Recentemente assisti dois vídeos que me
mobilizaram bastante. O primeiro de uma professora que aparentava ter mais de
50 anos, ensinando como fazer um coelhinho de papel. Nos olhos dessa professora
eu vi cansaço, eu vi desconforto com essa linguagem. Esse vídeo, apesar de
agradar a uma criança de 6 anos, minha filha gostou e fizemos o tal coelhinho,
me entristeceu. Doeu ver uma profissional naquela situação. Mas instantes
depois, assisti outro vídeo que me levou as lágrimas de tanto rir. Este era uma
montagem com uma espécie de erros de gravação de diversas professoras. Elas
riam da situação, eu ri, nós rimos juntas desse absurdo que estamos
vivenciando.
Imediatamente lembrei-me do curso introdutório sobre palhaçaria onde a mestre
Karla Concá nos disse que a palhaçaria trabalha o compartilhamento do fracasso.
E sim, tem uma dimensão de fracasso em toda essa situação. Um fracasso sobre o
que as famílias e a sociedade pensam sobre Educação. Mas que tal
compartilharmos esse fracasso? Rir dessa situação absurda. O convite não é a
uma alienação, ao contrário, mas a uma plena consciência do ridículo que
estamos vivenciando e assim fazermos do riso, nosso e dos outros, uma linha de
fuga, uma sobrevivência nesses tempos de tristeza. Amigas e amigos professores,
riam da situação, compartilhem seus fracassos e angústias com pessoas de
confiança, não se culpem, não se frustrem. Somos educadores, sabemos, e não
serão aqueles que de educação nada entendem, que irão nos definir.
*Pâmella Passos é professora da rede pública desde 2006, pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Tecnologia, Educação e Cultura e aprendiz de palhaça
FONTE: https://odia.ig.com.br/opiniao/2020/05/5915670-pamella-passos–ser-professor-em-tempos-de-pandemia-e-um-convite-ao-riso.html