Leia abaixo o texto de Cristiana Rosa Valença e Eliane Brígida Falcão, professoras e colaboradores do OLÉ – Observatório da Laicidade na Educação, especialmente adaptado para esta página, sobre a relação entre o professor pesquisador de Biologia, o seu papel docente ao formar novos professores e pesquisadores e as crenças religiosas: O PESQUISADOR EM BIOLOGIA, SEU PAPEL DOCENTE E AS CRENÇAS RELIGIOSAS1 Cristiana Rosa Valença Professora de Biologia do CEFET-RJ Mestre e doutoranda em em Educação em Ciências e Saúde – UFRJ Colaboradora do OLÉ – Observatório da Laicidade na Educação Eliane Brígida Falcão Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Doutora em Ciências – UFRJ Colaboradora do OLÉ – Observatório da Laicidade na Educação A teoria da evolução, o paradigma científico que confere sentido e perpassa as várias áreas da Biologia, é um tema polêmico no contexto do ensino, em função das crenças religiosas encontradas entre estudantes e mesmo entre professores, nos diferentes ambientes educacionais do mundo inteiro. Não é raro o relato de professores de dificuldades diante de enfrentamentos estudantis durante as aulas sobre evolução no Ensino Médio. Diante disto, muitas vezes o tema é apresentado rapidamente ou mesmo evitado, reforçando-se as crenças estudantis. Interessadas nesta questão, buscamos conhecer as percepções e experiências de um grupo de professores-pesquisadores de Biologia2. Estes professores, além da pesquisa científica e chefia de laboratórios formam biólogos e futuros professores do Ensino Médio. Foram realizadas entrevistas individuais com 17 professores-pesquisadores de uma universidade federal do Rio de Janeiro. O perfil religioso do grupo revelou cerca de 60% de ateus, 25% religioso, 12% em dúvida e 12% agnóstico. A crença em Deus, presente no grupo, relacionava-se a um Deus indefinível sem adesão a uma religião institucionalizada. A representação social dos professores mostrou que o grupo percebe que há crenças religiosas entre seus estudantes de Graduação em Biologia e revelaram posturas abertas ao diálogo ainda que sugiram não dominar estratégias pedagogicamente apropriadas para isto. Além disso, se verificou que circula entre o grupo um discurso que admite não discutir ou interromper a discussão acerca das crenças religiosas. Os conceitos de ancestralidade comum e a evolução humana foram percebidos como mais suscetíveis à emersão de crenças religiosas estudantis, sobretudo diante da visão cristã de que as espécies foram criadas já em sua forma atual e da visão antropocêntrica. E os entrevistados perceberam ainda que um confronto direto com as crenças estudantis é improdutivo: educacionalmente, para eles, o correto é buscar um diálogo onde se distingam os campos da ciência e da religião. Com esses dados obtidos, concluímos que, embora haja abertura docente para lidar com a questão religiosa dos estudantes, falta qualificação acadêmica para isto. A formação de biólogos exige discutir questões da cultura humana. E isto é importante tanto para a formação acadêmica do pesquisador quanto para o papel docente. Discutir questões de ordem cultural, como crenças religiosas, é uma demanda incontornável do atual cenário educacional! 1 Este texto foi adaptado para a página do OLÉ – Observatório da Laicidade na Educação, para contribuir com o debate sobre o qual trata, com base em trabalho apresentado no II Simpósio Regional Rio de Janeiro de História das Religiões e das Religiosidades da ANPUH Nacional e Estadual realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro no período de 25 1 27 de Novembro de 2014. 2 A teoria das Representações Sociais foi o referencial teórico que orientou a pesquisa e a técnica para análise dos dados foi o Discurso do Sujeito Coletivo. Para conferir o resultado da pesquisa na íntegra, consultar a seguinte dissertação: Valença, Cristiana Rosa. Teoria da evolução: representações de professores pesquisadores de biologia e suas relações com o ensino médio. Rio de Janeiro, 2011. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. |